Eleito há dois anos, Marcelo Rebelo de Sousa tem sido um Presidente popular e interventivo, no centro da vida política, com presença mediática e uso constante da palavra, analisando e deixando recomendações sobre os temas da atualidade.
O
ex-comentador político e professor universitário de direito, que
completou 69 anos no mês passado, foi eleito Presidente da República em
24 de janeiro de 2016, à primeira volta, com 52% dos votos, e tomou
posse em 09 de março desse ano, após um ciclo de dez anos de Aníbal
Cavaco Silva em Belém.
A
seguir às eleições presidenciais, elencou os seguintes princípios para o
seu mandato: "Afetos, proximidade, simplicidade e estabilidade".
Embora
vindo da mesma área política, e sendo igualmente um antigo líder do
PSD, o novo chefe de Estado distinguiu-se do seu antecessor, desde logo,
no registo informal de proximidade com os cidadãos e na agenda intensa,
em contraste com o estilo mais contido e formal de Cavaco Silva.
Nos
seus primeiros 100 dias em funções, Marcelo Rebelo de Sousa teve mais
de 250 iniciativas e falou praticamente todos os dias, em regra várias
vezes ao dia.
Mostrou
também diferenças na interpretação da função presidencial ao exercer um
acompanhamento permanente e ativo da governação e da atividade
parlamentar, ouvindo regularmente – de três em três meses – os partidos
com assento na Assembleia da República, as confederações patronais e
sindicais e o Conselho de Estado.
Em
menos de dois anos, já convocou oito vezes o Conselho de Estado. Em
contraste, nos dez anos de mandato de Cavaco Silva, este órgão de
consulta presidencial tinha-se reunido, no total, 12 vezes.
Ainda
não recorreu ao Tribunal Constitucional, mas utilizou seis vezes o
poder de veto político, em relação a dois decretos do Governo, sobre
acesso a informação bancária e o estatuto da GNR, e a quatro diplomas do
parlamento, sobre gestação de substituição, os transportes do Porto e
de Lisboa e alterações ao financiamento dos partidos.
Em
janeiro de 2017, perante alunos de uma escola secundária, em Cascais,
definiu-se como um Presidente da República que não recorre
frequentemente ao Tribunal Constitucional como "uma espécie de defesa",
mas que exerce "sem complexo nenhum" o veto político, perante fortes
divergências.
Enfrentando
um quadro de bipolarização resultante das legislativas, o início do seu
mandato foi marcado pela desdramatização da atual solução governativa
minoritária do PS, suportada pelas forças à sua esquerda, e por um tom
de distensão e descrispação, embora com reparos e alertas para a
necessidade de mais crescimento e de salvaguarda do equilíbrio
orçamental.
Defensor
da estabilidade política, o chefe de Estado tem, em termos gerais,
elogiado os resultados da governação e estado em convergência com o
executivo chefiado por António Costa. Contudo, a sua atuação mudou na
sequência dos incêndios de 2017, de forma agravada quando em outubro se
repetiram dezenas de mortes.
Tornou-se
mais vigilante e exigiu "um novo ciclo" com ação urgente, numa
comunicação ao país em outubro do ano passado, em que também pediu uma
clarificação do apoio ao Governo no parlamento, aconselhou um pedido de
desculpas, sugeriu mudanças de equipas e prometeu usar todos os seus
poderes para assegurar que o Estado cumpre o dever de proteção das
populações.
O
chefe de Estado classificou os fogos de junho e de outubro, que no seu
conjunto mataram mais de cem pessoas, como "o ponto mais doloroso" da
sua presidência e prometeu nunca mais largar o assunto, tendo decidido
passar o Dia de Natal e o final do ano nos municípios mais atingidos.
No
entanto, Marcelo Rebelo de Sousa teve de ser operado de urgência a uma
hérnia umbilical, no dia 28 de dezembro, o que o obrigou a cancelar toda
a sua agenda até 01 de janeiro, incluindo a deslocação às regiões
atingidas pelos fogos prevista para a altura do fim de ano, e a abrandar
o ritmo nas semanas seguintes.
O
Presidente da República tem apelado a acordos de regime setoriais,
defendendo ao mesmo tempo a necessidade de um Governo e de uma oposição
fortes, que sejam espaços alternativos – ideia que reiterou neste início
de 2018, depois de ver Rui Rio ser eleito para a liderança do PSD,
contra Pedro Santana Lopes.
No plano da política externa, já fez mais de 30 deslocações ao estrangeiro, a maior parte a países da Europa.
Em
2017, esteve em Madrid, Bruxelas, Andorra, Barcelona, Atenas, Malta, em
curtas visitas oficiais ou conferências internacionais, e foi à posse
do novo Presidente de Angola, João Lourenço.
Além
disso, dividiu as cerimónias do 10 de Junho entre o Porto e as cidades
brasileiras de São Paulo e Rio de Janeiro – repetindo um modelo inédito
iniciado em 2016 de celebração do Dia de Portugal junto das comunidades
portuguesas no estrangeiro – e visitou os 140 militares portugueses em
missão na Lituânia.
Fez,
até agora, oito visitas de Estado, a Moçambique, Suíça e Cuba, em 2016,
Cabo Verde, Senegal, Croácia e Luxemburgo e México, em 2017,
seguindo-se São Tomé e Príncipe, em fevereiro próximo.
Em
território nacional, no último ano, destacam-se as suas visitas às nove
ilhas da Região Autónoma dos Açores, que percorreu em duas etapas, e as
sucessivas vezes que esteve nos locais dos maiores incêndios, onde
contactou de perto com as populações atingidas.
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